Mas não é este o mérito da questão. O que merece destaque na notícia acima é o fato de que o nome de uma substância química foi utilizado sem causar nenhum espanto ao leitor: THC é mais um exemplo de nomenclatura química que deixa o meio acadêmico e se instala no senso comum da população. Mas o que é o THC? O que faz com que milhões de jovens e adultos passem boa parte de sua vida fumando maconha? O que esta erva faz com nosso organismo? Para estas e outras perguntas, QMCWEB apresenta as respostas.
Canabinnóides |
Os cannabinóides são compostos com estruturas semelhantes aos terpenos - tal como o limoneno abaixo. |
Vamos começar pelo 6,6,9-trimetil-3-pentil-6H-dibenzo[b,d]piran-1-ol: este é o nome IUPAC do THC, substância tóxica, cujo LD50 é 730 mg/kg via oral e 42 mg/kg se inalado. O principal constituinte ativo da marijuana tem sido investigado desde 1899, mas a primeira isolação da forma pura do d-9-tetrahidrocannabinol somente ocorreu em 1964. Um ano mais tarde, químicos obtiveram a forma sintética da droga. O THC é apenas um dos vários cannabinóides - compostos terpenóides (com estrutura similar aos terpenos, como o limoneno) que ocorrem nos óleos essenciais de várias plantas, tal como na cannabis. Nas plantas, as funções destas substâncias estão relacionadas à produção de vitaminas, esteróides e pigmentos. Também funcionam como mecanimos de defesa contra os predadores, por interferirem no sistema biológico dos animais que comem suas folhas. Os cannabinóides são essencialmente moléculas apolares, com baixa solubilidade em água - por isso são geralmente administrados através de cigarros.
Arraste de vapor |
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Embora seja o mais popular e o mais ativo, o THC não é o único cannabinóide da marijuana com atividade fisiológica nos humanos. Muitos outros também tem atividades, sendo muitas vezes agonistas do THC. Estudos mostram que os efeitos provocados pela administração do THC puro são muito diversos daqueles sentidos no uso da marijuana.
Cabeça mais leve, taquicardia, secura da boca e da garganta, vermelhidão dos olhos: os efeitos da maconha são clássicos e conhecidos. A mãe logo descobre que o filho andou fumando maconha apenas observando alguns destes sintomas - associados à súbita mudança de comportamento e de amigos, além do odor (maresia) característicos.
Os efeitos da marijuana variam muito, dependendo da qualidade da erva, da quantidade consumida, da forma de consumo e da experiência do usuário. Os efeitos psicológicos tendem a predominar sobre os fisiológicos. Resumidamente, pode-se dizer que a maconha provoca uma leve euforia, distorções espaço-temporais, alteração do humor, taquicardia, dilatação dos vasos sanguíneos oculares, secura da boca e tontura. Entretanto, doses mais elevadas podem vir a provocar uma intoxicação aguda (raro com baseados, comum com hashish). Neste caso, o usuário tem fortes alucinações audio-visuais, ansiedade, depressão, reações paranóicas e outras psicoses, além de incoordenação motora e desconforto físico.
Estudos têm mostrado que, mesmo em usuários crônicos, a retirada súbita da droga não causa nenhum sintoma agudo, isto é, não se observa nenhuma dependência física da droga. Entretanto, o uso contínuo da marijuana pode dirigir o usuário a uma habituação psicológica, caracterizando o vício.
Dentre as várias manifestações psicológicas da cannabis, algumas são particularmente comuns: a euforia e a hilariedade. Logo nas primeiras tragadas do baseado, o usuário se sente eufórico e mais susceptível a longas gargalhadas. Outro fenômeno comum é a dislexia, ou seja, a dificuldade de manter a concentração em um determinado assunto: a marijuana parece perturbar o fluxo contínuo das idéias. Outro efeito bastante conhecido é a perturbação da memória: indivíduos que fumam maconha tendem a esquecer mais facilmente e, também, apresetarem sérios problemas de memória a longo prazo. Um fator positivo da marijuana, em relação a outros narcóticos, e o aumento da sociabilidade do usuário e, também, da pacificação provocada pela droga: a maconha diminui a agressividade. Muitos usuários - sobretudo os inexperientes - relatam vivenciar situações de medo, pânico e ansiedade. Algumas vezes, ocorre a popular "síndrome da morte iminente".
Sob o ponto de vista científico, o álcool é extremamente mais prejudicial e tóxico do que a marijuana. Existem muito mais mortes associadas ao consumo de álcool do que ao de marijuana. Os efeitos fisiológicos debilitadores são muito mais intensos com o álcool do que com a marijuana. As chances de intoxicação aguda são maiores com o álcool. Mas isto, entretanto, não serve como uma desculpa para a liberação do consumo da marijuana: deve ser visto como um estímulo à proibição, também, do álcool, sob as mesmas premissas. Sob o ponto de vista dos que defendem a legalização da cannabis, a droga é um fraco alucinógeno, sem comparação aos narcóticos opióides ou à cocaína. Para estes grupos, a droga é uma válvula de escape para o stress da população, uma forma de se atingir um bem-estar e não está associada, de nenhuma forma, à violência: seria a proibição e marginalização da droga a responsável pelas mortes relacionadas ao tráfico.
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A marijuana se tornou uma droga ilegal - a nível internacional - em 1925, durante a International Opium Convention. Em 1960, a maior parte dos países ocidentais já havia estabelecido leis nacionais que proibiam o uso e o consumo da marijuana, punindo os infratores com fortes penas. Um dos primeiros paises a se tornar tolerante à marijuana foi Netherland: em 1996 a legislatura de Netherland tornou legal o consumo e o plantio (desde que para consumo próprio) da marijuana. O resultado foi uma avalanche de turistas que, anualmente, lotam as praças e pubs de Amsterdã, onde experimentam a liberdade absoluta para consumir diversas qualidades de cannabis. Embora Netherland tenha experimentado a liberação de outras drogas, foi somente a marijuana que apresentou resultados toleráveis: hoje, o uso de heroína, cocaína e outros narcóticos é proibido neste país.
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Mais recentemente, outros paises da comunidade européia passaram a rever suas legislações relacionadas à cannabis. Swiss e Portugal já aprovaram a liberação do consumo de marijuana, enquanto que a venda continua proibida. Continuamente, grupos debatem também a liberação em outros paises, como Belgium e UK. Vários estados do US (Alaska, Arizona, California, Colorado, Nevada, Oregon e Washington) aprovaram leis liberando o uso medicinal da marijuana, contrariando a legislação nacional.
Pode-se dizer que, em alguns anos, a legislação internacional com respeito à cannabis esteja diferente. Talvez a forte pressão de grupos organizados consigam a liberação, ao menos, parcial do consumo de marijuana. Entretanto, vale lembrar: no International Opium Convention, am 1925, estavam na pauta para a proibição internacional duas outras drogas muito conhecidas: o álcool e a nicotina. Devido ao enorme poder das indústrias tabagistas e de bebidas alcóolicas, estas duas drogas não foram banidas. A classificação de lícita e ilícita, portanto, é meramente baseada em argumentos econômico-políticos.
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